quarta-feira, 28 de abril de 2010

O Capitão Saiu para o Almoço e os Marinheiros Tomaram Conta do Navio

12/09/91 – 23:19

Sem cavalos hoje. Me sinto estranhamente normal. Entendo por que Hemingway precisa das touradas, elas o situavam, lembravam-no de onde era e o que era.
Às vezes nos esquecemos, pagando contas de gasolina, trocando o óleo etc. A maioria das pessoas não está pronta para a morte, a sua ou a dos outros.
Ela as choca, as apavora. É como uma grande surpresa. Diabos, não deveria ser nunca. Levo a morte em meu bolso esquerdo. Às vezes, tiro-a do bolso e falo com ela: “Oi, gata. Como vai? Quando virá me buscar? Vou estar pronto”.
Não há nada a lamentar sobre a morte, assim como não há nada a lamentar sobre o crescimento de uma flor. O que é terrível não é a morte, mas as vidas que as pessoas levam ou não levam até sua morte. Não reverenciam suas próprias vidas, mijam em suas vidas. As pessoas as cagam. Idiotas fodidos. Concentram-se demais em foder, cinema, dinheiro, família, foder. Suas mentes estão cheias de algodão. Engolem Deus sem pensar, engolem o país sem pensar. Esquecem logo como pensar, deixam que os outros pensem por elas. Seus cérebros estão entupidos de algodão. São feios, falam feio, caminham feio. Toque para elas a maior música de todos os tempos e elas não conseguem ouvir. A maioria das mortes das pessoas é uma empulhação. Não sobra nada para morrer.
Veja, preciso dos cavalos, perco meu senso de humor. Uma coisa que a morte não suporta é que você ria dela. O verdadeiro riso ganha a maior das apostas. Não rio a três ou quatro semanas. Alguma coisa está me comendo vivo. Me coço, me viro, olho em volta, tentando encontrá-la. O Caçador é esperto. Não consigo vê-lo. Ou vê-la.
Este computador deve voltar para a loja. Não vou abençoá-los com os detalhes. Algum dia, vou saber vou saber mais dos computadores do que os próprios computadores. Mas, nesse momento, esta máquina está me vencendo.

Tem dois editores que conheço que ficam ofendidos com os computadores. Tenho essas duas cartas e elas são furiosos contra os computadores. Fiquei surpreso com a amargura nas cartas. E com a criancice. Sei que o computador não pode escrever por mim. Se pudesse, eu não ia querer. As cartas eram longas demais. Inferiam que o computador não faz bem à alma. Bom, poucas coisas fazem. Mas sou a favor da conveniência, se posso escrever o dobro e a qualidade continua a mesma, então prefiro o computador. Escrever é quando vôo, escreve é quando começo incêndios. Escrever é quando tiro a morte do meu bolso esquerdo, atiro-a contra a parede e pego de volta quando rebate. 
Esses caras acham que você tem que estar crucificado e sangrando para ter alma. Querem que você esteja meio louco, babando na camisa. Já estou cheio da cruz, meu tanque está cheio disso. Se eu puder ficar fora da cruz, ainda terei bastante combustível. Demais. Deixe que eles subam na cruz, eu os congratulo. Mas a dor não cria a obra, um escritor, sim.
De qualquer forma, de volta à loja com isto e quando esses dois editores virem meu trabalho batido à máquina de novo vão pensar, ah, o Bukowski está com sua alma de volta. È muito melhor ler esse negócio.
Ah, bem, o que faremos sem os editores? Ou melhor ainda, o que eles fariam sem nós?

 Charles Bukowski - O capitão saiu para o almoço e os marinheiros tomarão conta do navio 

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