sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Morte embebida em café amargo

Eis que chegou o dia
Dia de solidão, dia de agonia
De prestação de contas
Criar inimizades

Destruir laços, abraçar o encosto
Tomar o café amargo e o leite azedo
Detestar o próximo
Sentir-se culpado

Se lembrar de outros dias
Da fartura das coisas e
Até no amor
Desse lembras com carinho

Do quarto que escurece ao meio-dia
E os raios do sol não penetram
Nem mesmo o veneno
Preserva o mesmo sabor

Sentir o hálito do anjo mal
Que vem trazer-lhe com as duas mãos
E de braços estendidos
O que menos desejastes em toda a vida

Trazer-lhe a faca e a enfermidade
Mentira embebida em loucura
Silenciar a alegria
Semear a miséria

Dia de segurar com todo vigor e
Juntar os pedaços da alma
Vestida de cetim como na canção
Quer apenas um beijo de boa noite


Inspirado em Lembranças de Morrer de Álvares de Azevedo

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