domingo, 29 de agosto de 2010

The Year Punk Broke


Seria heresia afirmar nos dias de hoje que uma banda de rock simples e sujo, mesmo com boas letras, iria desbancar das paradas artistas como Beyoncé ou Lady Gaga. 
No entanto, foi o que aconteceu no começo dos anos 90 quando o, até então pouco conhecido, Nirvana colocou no mercado seu segundo disco Nevermind obrigando que os grandes barões de gravadoras repensassem tudo o que vinham trabalhando nos últimos anos e colocar a seguinte questão: "Como uma banda acostumada a tocar em pequenos nichos, espeluncas e clubes cheirando a mijo, iria destronar o rei do pop do topo das paradas de sucesso (no caso, o disco Dangerous do Michael Jackson) e ser aclamada pelo melhor e pior da imprensa e público?" Nevermind, vendeu algo em torno de 26 milhões de cópias e, mesmo lançado há 19 anos, continua sendo um dos trabalhos mais influentes do cenário musical. 

Nirvana Nevermind, 1991
O ano de 1991 marcou uma retomada de valores na música que estavam esquecidos e ignorados pela mídia fazia um bom tempo. A nova década parecia fadada ao lixo mais comercial e despretensioso de idéias e atitude possível, principalmente no rock, com toda super produção de venda da imagem enfiada goela abaixo. Entretanto, através de um pequeno esquema de divulgação local em Seatle (principalmente pelo selo da Sub Pop) bandas de garagem com sonoridade e agressividade necessárias do punk/ hardcore, ao mesmo tempo com lirismo característico das bandas dos anos 60 e excelentes melodias, começam a chamar à atenção. Eram apenas jovens fazendo música por farra e teimosia, cansados do som proposto na época e trazendo de volta o espírito do it yourself (faça você mesmo) e a sonoridade condizente com a situação. Imediatamente o mercado enxergou o potencial comercial dessa geração e logo fodeu com tudo ao injetar milhões na tentativa de domestica-los em favor da indústria e do mainstream.

 Kurt Cobain on stage in the Reading Festival, 1991
1991: The Year Punk Broke, documentário independente dirigido por Dave Markey, acompanha a turnê do Sonic Youth pela Europa com o, Nirvana, Babes in Toyland, Dinosaur Jr e Gumball, além dos Ramones, referência de todos, Courtney Love e alguns integrantes do Mudhoney. O filme marca o período de transição de pequenos públicos para as grandes platéias e festivais como o Reading Festival, ainda mostra imagens raras e exclusivas dos bastidores entre conversas bizarras e entrevistas desconexas à avacalhação com a imprensa que, acostumados com bandas cheias de frescuras e poses, se deparam com músicos sem o deslumbramento com o glamour (antes quase essencial no rock), loucos de ácido, preocupados apenas em tocar e se divertir. Em determinado momento do vídeo, Thurston Moore (guitarrista, vocalista) do Sonic Youth, em uma divagação poética a cerca da estética punk, tenta explicar a uma senhora na mesa de café ao lado por que o “punk declinou”, sem nenhum retorno aparente. Thurston também protagoniza com sua esposa Kim Gordon (guitarrista, baixista, vocalista), Kurt Cobain e Mark Arm, outras cenas hilárias pelas ruas ou no backstage. Os shows são antológicos com maior destaque para o Sonic Youth e o Nirvana que havia recém assinado com uma grande gravadora, por sugestão de Thurston Moore, e já quebravam (literalmente) tudo no palco pra delírio dos espectadores e das outras bandas fazendo um show seminal, no melhor sentido da palavra. Vale lembrar que se trata de uma produção independente mesmo assim é um dos melhores e mais divertidos filmes do gênero.


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