domingo, 2 de maio de 2010

Música e Tumulto Racial na Detroit Motorizada

Graças a Henry Ford e de e sua Ford Motors e desde o fim da segunda guerra que muitos negros chegavam ao Estado de Michigan, fugindo do horror do fanatismo e racismo dos brancos do Sul. Esse contingente naturalmente ia parar nos guetos de Detroit e esse pessoal trazia consigo uma de suas maiores preciosidades, o blues.

Photo by Machine Gun Thompson's Blog

Com a indústria automobilística na década de 1950 o rock n' roll pegava Detroit de assalto. Os operários das fábricas tinham também no rock uma de suas maiores diversões. Na noite de sexta-feira todos se mandavam para os clubes noturnos na Michigan Avenue, onde gigantescas jukeboxes exerciam sua função e colocavam todos à parte do que estava por vir. Em cada esquina da cidade a garotada aprendia a beça ouvindo tanto a guitarra de Chuck Berry como aprendendo os passos fabulosos de James Brown. Essa fusão de estilos e referências continuava pelos anos seguintes; qualquer jovem de Detroit que ouvisse rádio e comprasse discos na época, assimilava em mesma intensidade em mesma intensidade o rock visceral britânico de bandas como The Who e Yardbirds e a liberdade musical do jazz de caras como John Coltrane, Eric Dolphy, Sun Ra, Pharaoh Sanders, Archie Shepp, Cecil Taylor, Sunny Murray e outros. A conexão entre os estilos era total e a absoluta. Os mais astutos sabiam que a liberdade musical estava muito acima do que qualquer rótulo estúpido. Para a molecada, que passava dias e dias ensaiando numa garagem, a música era o natural caminho para fugir da dura rotina das fábricas.

Sun Ra and His Myth Science Arkestra

Essa juventude de Detroit acabou tendo um background completamente diferente dos demais pólos culturais da América e do mundo. As influências e a paisagem industrial certamente criaram um peculiar estilo ou seja, a “pegada” de Detroit é diferente, no rock, soul ou blues.
O perfil dos músicos de Detroit era muito diferente dos hippies de são Francisco, dos intelectuais de Nova York, dos astros de Hollywood ou dos dândis da Swingin' London, por exemplo.
Funkadelic

Em meadas da década de 1960, a cidade dos motores era também o epicentro das radicais políticas juvenis da América. No verão de 1967, sim aquele mesmo do paz e amor de frisco, o exército tomou as ruas de Detroit buscando restabelecer a ordem. Tudo começou numa manhã de domingo, dia 23 de julho de 1967, quando a polícia local invadiu um bar na área barra pesada da cidade. No local, 82 negros comemoravam a volta de dois soldados do Vietnã e mesmo assim a policia resolveu levar todo mundo em cana. O que era um confronto dentro do bar acabou resultando num dos mais trágicos episódios da história moderna da América, conhecida também como o 12th Street Riot, onde 43 pessoas foram mortas e quase 500 ficaram feridas , em cinco dias de revolta. Desses 43 mortos, 33 eram negros e isso caracterizou o ocorrido como um dos maiores tumultos raciais da época.
Algum tempo aos os tumultos, já na década seguinte, as coisas só pioraram para Detroit, o desemprego disparou, o tráfico de drogas virou um meio de ganhar a vida pra muita gente e todo mundo passou a comprar armas, o que tornou a cidade a capital nacional dos homicídios: cerca de 800 por ano. De Motor City a cidade passava a ser conhecida como Murder City.
O cenário ficava diferente; quarteirões e mais quarteirões de prédios abandonados. A população, que antes era de quatro milhões de pessoas, cai para um milhão e alguns mais céticos a chamar a cidade de “Pompéia americana”.

 MC5 Album Art

Exageros a parte, Detroit sempre será considerada a uma das Mecas do rock mundial. O cenário agressivo da cidade sempre refletiu diretamente na música parida de suas entranhas. Da voz potente de Mitch Ryder passando pela violência de Stooges e MC5; da guitarra altíssima de Ted Nugent passando pela esmerada produção magnífica da Motown...

  Motor City is Burning, blues furioso do MC5 é inpirado em nesses dias, com direito a simulação de uma metralhadora na performance do guitarrista Wayne Kramer. It's time to Kick out jams motherfuckers!
 

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