terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

O período em que os universos da poesia, do rock and roll, da arte e do sexo entravam em colisão

Primeiro disco de Patti Smith, Horses (1975)

Encontrara alívio em Arthur Rimbaud, com quem havia deparado em uma banca de livros do outro lado da rodoviária de Filadélfia quando tinha dezesseis anos. Seu olhar arrogante me encarou na capa de Illuminations. Ele possuia uma inteligência irreverente que me acendera, e tomei-o por um compatriota, um parente, e até um amor secreto. Sem ter os 99 centavos para comprar o livro, surrupiei-o.
Rimbaud tinha as chaves para uma linguagem mística que devorei mesmo sem ainda ser capaz de decifrar. Meu amor não correspondido por ele era tão real para mim quanto qualquer coisa que eu já houvesse experimentado. Na gráfica onde eu trabalhara com um grupo de mulheres duras e analfabetas, fui perseguida por causa dele. Desconfiando que eu fosse comunista por ler um livro em língua estrangeira, elas me ameaçaram no banheiro, incitando-me a denuncia-lo. Ele se tornou meu arcanjo, livrando-me dos horrores mundanos da vida fabril. Suas mãos haviam esculpido um manual do céu e nelas rapidamente me agarrei. Conhecê-lo trouxera insolência aos meus passos e isso não podia ser tirado de mim. Joguei meu exemplar de Illuminations em uma mala xadrez. Nós fugiríamos juntos.
(Patti Smith)

A performer e poeta Patti Smith nasceu em 1946, em Chicago. Seu disco Horses (1975), tido como precursor do punk, foi considerado pela revista Time um dos cem melhores álbuns de todos os tempos. Patti também publicou livros de poesia como Babel e Auguries of Innocence. Em 1973, expôs seus desenhos pela primeira vez, e, em 2008, a Fundação Cartier de Paris apresentou uma grande mostra da artista.

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