segunda-feira, 26 de julho de 2010

For Son House


Dormi em estações do metrô, em camas de motéis velhos e sujos e no chão de amigos. Fui à clubes noturnos do público branco e pessoas intragáveis aqui em sampa, todos querendo ser descolados e cool a qualquer custo.
O primeiro violão quebrado ganhei na igreja e, lá mesmo, forjei alguns acordes. Corri da igreja atrás do diabo que deixou Robert Johnson virtuoso, mas ele já não era visto há alguns anos. Concluí que ele deve ter permanecido na mesma encruzilhada em 1925 e em chamas.
Só fui encontra-lo anos mais tarde alojado em uma garrafa. Tomei tudo, até a última dose e gota na semana passada. Acabou!
Aqueci meu bottleneck na fogueira depois que você matou aquele cara. Me trouxe problemas até os ossos e, mesmo assim, elas permaneceram se chacoalhando com “My Black Mama” e “Death Letter”.
Alguns caras se dizem seu pupilo hoje em minha cidade e entendem de técnicas e instrumentos caros, sendo parte de uma elite de músicos que não fez mais que olhar pro seu próprio umbigo. 
Esqueceram de dizer a eles que, em 1927, um violão custava 3 dólares, o que fez com que muitos despojassem talento empunhando um violão ou gaita, cantando gospel e/ou folk, grande depressão e lei seca, e que você tão pouco tinha todos os dentes em sua boca.
– “Quem precisa dessa elite paulistana do blues?”
Te trouxeram de volta em 1964, seus jovens admiradores ingleses, certo?! Fico imaginando você rodeado deles e pensando - “ Rolling Stones, hein?! Isso é um pouco familiar” e as perguntas velhas sobre Robert Johnson e Charlie Patton. Pra eles são meros fantasmas, mas foram seus parceiros em outra época.
Ok, House! Sei que matou em legitima defesa, talvez um marido ciumento, certo? Não faz mal, você nos ensinou e até hoje elas chacoalham o quadril.
Certa vez, acordei em uma praça e, em outras noites, camas de estranhos - “Merda, onde eu estou!”.Isso também deve ter acontecido um dia com você, não é?!
Todos te copiaram, mas ficaria desapontado e surpreso em saber que não há blues nas periferias.

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