segunda-feira, 14 de junho de 2010

DAS DIURNAS - José de Carvalho

O Gouveia, jogando uma garrafa de uísque pro alto,
ensaia uma apresentação.
– A velha ardência pelo Show Bussines.
Passou a noite urrando
com uma fêmea de grande porte, um e oitenta e dois
De família boa.
A mãe foi stripper e a avó dançarina
num clube do Largo da Batata. 
O que, pelo Almeida,
só reforçaria um ménage.
Teria um valor de cúmplice, coisa de amigos.
O broto não quis.
Preferiu a animalidade nua e crua
huum..., huum..., huum...do Gouveia.
Conversa vai, conversa vem...
Desviamos do assunto,
pegamos um Praça Ramos.
Descemos no Largo do Arouche.
O Almeida imitava cão de Espala
e latia um Allegro. Agudo que nem o diabo.
Por trás das mulheres, que gritavam à toa...
Compramos uns secos e molhados
na rua Aurora. 
E bolamos a pedra filosofal do discurso.
De pronto,
o Almeida deu o mote: “Natureza viva, coisa pura”.
O que em nada
incomodou o Gouveia
absorto em alguma questão pornoerótica.

(Texto extraído do Buquê de José de Carvalho, poeta e amigo dos bons)

José de Carvalho é poeta e fotógrafo, autor dos livros Destas Águas e Buquê.

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