sexta-feira, 7 de maio de 2010

meu sono insone - Neomisia Silvestre

meus olhos saltados pro mundo falam por mim. minha perna de joelho mole quer me dizer algo, eu sei. o meu riso de boca escancarada deve soltar meias palavras. o meu coração, ah, este sim, tolo completo, revela tudo. me desnuda frente ao acaso, me obriga a olhares de incerteza e falas pré-conceituadas, osas. e me deixo. de uns tempos para cá, não ligo, mas deixo a ligação cair até o último chamar. regredi esfumaçada. avancei. avancei demais. recuei quando é dever dos homens seguir. é, normalmente me deixo levar por um sentir bom, mas que expõe e fragiliza. sim, palavra antes dita, mas perfeita palavra. e viro cristal e pele em vida e abismo à frente. eu quero despencar, despejar ali o que me sobra e o que me falta. me falta um pedaço. cadê aquela outra perna reserva? antes não ter notícias. quiçá me privar do conhecimento fosse melhor à minha falta. e eu vivo incerta de tudo ao meu redor. metamorfoseando-me aos poucos. já não sei que sou, que serei daqui um tempo. e que tempo é este? egoísta tempo. egoísta eu, que quero o perto no meu tempo passante sendo o ser livre que se é. e minha imaginação me bota um existir platônico e leocadiano de ser: não sou. gosto dos personagens de uma literatura não existente. eu não existo. nada existe. e lembro todos os dias de existir desde que tomei o conhecimento. é, talvez eu tenha tomado um porre de conhecimento. ele vive aqui martelando cuca, me tirando o sério, me entristecendo dias, me enchendo horas de alegria precoce. das vagas lembranças restaram livros, doces, músicas que ninguém ouve e palavras inventadas sem a veracidade cruel dos aurélios. minhas lágrimas revelam um sofrer de quem rumina dores por um sofrer mais poético. e sem saber, poemas me são escritos e coloridos.
(Neomisia Silvestre)

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