quarta-feira, 21 de abril de 2010

A Night at the Treme-Treme


  Oiginally by stuck at bronze 

Começo de qualquer noite em 1999, correndo para executar as trinta e tantas O.S (ordem de serviço) que eu e meu parceiro derrubaríamos até as 22:00 horas. Na época, eu trabalhava na Eletropaulo Metropolitana pós-privatização, ante das centenas de prestadoras de serviços, e me lembro de estar muito apreensivo não só pela região decadente ou por que, na ocasião, iriamos efetuar uma solicitação de corte, mas foi o singelo comentária do meu comparsa ao estacionar a caminhonete na faixada do famigerado Treme-Treme, que grudou na minha massa cinzenta.

“Olha garoto, o lugar é barra pesada! Aqui mora um pessoal meio esquisito e quando estaciona algum carro de polícia aqui, costuma voar algo como um botijão de gás em cima dele. Mas, fica tranqüilo tá ?!”
“Tá ?”
Nunca tive medo de elevador, apesar daquele ser desprovido de qualquer manutenção a anos e estar bem capengo, na ocasião meu medo era dos sujeitos que subiam conosco. Gritos, urros, janelas se quebrando, varais improvisados e olhares pouco amistosos aos dois alienígenas munidos com jaleco cinza e laranja, botas, luvas pesadas e, o muitas vezes dispensável, capacete. Os quadros elétricos, não menos abandonados e qualquer um tinha acesso. Me surpreende ninguém ter grudado em algum desses enormes distribuidores de energia ao cometer alguma fraude.
No final das contas, deu tudo certo. Executamos o trabalho afirmando aos curiosos que se tratava de um religamento, e saímos em disparada. 
Photo by Renato Rocha

Vizinho ao Palácio das Indústrias, defronte ao Mercado Municipal, o muito bem localizado Edifício São Vito, mais conhecido por Treme-Treme é geralmente lembrado por sua história de edificação largada e tomada pelo vandalismo, mas nos anos 50 foi um projeto arquitetônico de destaque. Hoje com seus 27 andares se encontra desapropriado pela Prefeitura de São Paulo, que anteriormente cogitou a reabilitação do edifício para habitação social e agora estuda a demolição do prédio. No entanto, há dezenas de outras edificações abandonadas na cidade (a Av. Celso Garcia possui uma legião deles). E pouco importa se são desapropriados ou não, estão presos a burocracias e permanecem anos nessa condição em contraste direto com as pessoas que sobrevivem ou “sub-vivem” nas ruas.

Photo by Renato Rocha

O tema é complexo, entretanto é difícil não notar ao caminhar por São Paulo a total indiferença com  tais "patrimônios" que "clamam" por restauração ou no mínimo, certo respaldo por parte dos gestores públicos.
Palmas ao nosso governo ou melhor, uma palma apenas por toda agilidade no planejamento de infra-estrutura (vale lembrar a cratera na construção das novas linhas do metrô) e bunda-molisse singular.


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